SOBRE A IMPORTÂNCIA DE DESABAFAR

IMAGEM: We Heart It
Aquele ano não havia começado tão bem quanto ela gostaria. Aqueles primeiros dias de Janeiro marcaram a quebra de expectativas e sonhos, raiva por esperar por algo que não procedeu como planejado e principalmente ansiedade por perder o controle, as rédeas de sua vida. E com a ansiedade vieram as crises, a angústia, o choro, a insônia e a tristeza. E como ela se entristeceu. Bastava olhar para seus olhos marejados de lágrimas. Ela não estava bem com todas aquelas emoções envoltas em uma bolha de medo. Medo do futuro, medo do presente, medo de suas escolhas e medo por estar perdida, sem direção. 
Esses dias transformaram-se em meses. Algo continuava errado, era perceptível. Ela tentava conversar com amigos, mas ouvia sempre as mesmas palavras, nenhum conselho produtivo ou simplesmente um abraço, um apoio, um sustento. Conversar então era inútil e ela se fechou para eles. Pareciam cegos à sua dor. Mas se um desconhecido perguntasse como ela estava as palavras pareciam querer saltar de sua boca e ela desmoronaria, cuspindo todos os sentimentos ruins para fora. Um estranho entenderia, talvez. Decidiu, então, que precisava desabafar de imediato. Doía não ter com quem conversar. Era um peso em suas costas, massacrando sua alma e ainda assim ela persistia em caminhar sozinha.
Até que carregar aquele fardo tornou-se insuportável como respirar em baixo d'água. E ela explodiu. Gritos, soluços, lágrimas, palavras e mais palavras que estavam engasgadas na garganta. Todos aquelas emoções ruins escorreram por sua boca. Disse tudo e não esperou por um conselho, apenas desabafou, se esvaziou, abriu seu coração. Falou até a boca ficar seca e faltar o ar. Ela falou, não quis mais guardar aquilo para si. Não desejou que a entendessem, apenas que a ouvissem. E os forçou a ouvir, admitindo que a dor era penosa demais para carregar sozinha e pediu por ajuda.
Quando não haviam mais palavras ela só chorou. Respirou fundo e aos poucos as batidas do seu coração normalizaram e após muito tempo ela se sentiu aliviada. O fardo nas costas já não pesava mais como antes e ela ajeitou os ombros, levantando a cabeça. Como o alívio de desabafar era extasiante. Ela pode finalmente sorrir de forma sincera. Recebeu, por fim, aquilo que mais ansiava: um abraço. E novamente as coisas se encaixaram.

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